domingo, 1 de julho de 2018

Limpeza da Levada do Poço de Rio Longo 2018






O dia da limpeza do rego, antecedendo o início do giro de Verão que começa no dia de S. João, é ainda a maior manifestação comunitária da freguesia de Ruivães. Nesse dia – este ano a 23 de Junho – os consortes da levada do Poço de Rio Longo- que serve os lugares da Botica, Vila, Quintã e Vale- juntam-se de madrugada para limpar a levada da vegetação e demais detritos acumulados durante o Inverno e a Primavera; facilitando assim a passagem da água que há-de regar as culturas de verão.
Tal como todas as outras tradições comunitárias, também esta corre risco de extinção. São cada vez menos as consortes que respondem à chamada. Uns porque a idade já não permite estes trabalhos, o que é compreensível, outros na certeza de que alguém fará o trabalho por eles, limitando-se a esperar pelo seu dia estando no talhadouro a tornar a água para o seu campo.
Os trabalhos de limpeza da levada sempre foram partilhados por todos os consortes havendo, antigamente, penalidade para quem faltasse à chamada. Eram outros tempos em que a vida no campo era central ao quotidiano de todos e em que havia mais entreajuda entre todos. Hoje a vida do campo passou a um plano secundário e das culturas de toda a propriedade passou-se para um pequeno talhão onde se cultiva uma pequena horta para colher apenas hortaliças e curiosidades. 
Terá sido a levada do Poço de Rio Longo a moldar o relevo e a propriedade dos lugares que serve, nos quase mais de 8 quilómetros de canais principais, sensivelmente o dobro de canais secundários, e cerca de 320 hectares de área irrigável. Comparando com as da região, a levada do Poço de Rio Longo é a terceira maior levada dos quatro distritos mais a Norte de Portugal, o que faz dela uma notável obra de engenharia que os nossos antepassados construíram e lutaram para manter, até judicialmente!
Dos seus 160 beneficiários (dados de 2004) responderam à chamada deste ano cerca de 30 pessoas. Não querendo estar aqui a contar cabeças nem a nomear o Manuel, o António ou o Joaquim que faltou, importa despertar consciências para a necessidade de se manter viva esta tradição como forma de mantermos viva a nossa terra.

Ruivães, 23 de Junho de 2018
Paulo Miranda

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma comunidade que deixa morrer as suas tradições mais ancestrais, acabará por se ver totalmente descaracterizada e, portanto, igual a todas as outras.
Aquilo que é autóctone, que é nosso, que faz parte dos nossos usos e costumes tem mesmo que ser preservado, sob pena de a tão falada "globalização" que hoje aplaudimos... amanhã nos levar na sua voragem destruidora.
Isto aplica-se a este caso concrecto, mas é necessariamente extensivo a todo o Portugal, onde o que é bom, se perde, em troca de nada ou, pior ainda, de "importações" que até são nocivas à nossa cultura mais ancestral: estou a pensar no dia das bruxas (vulgo halloween), no pai natal e noutras idiotices afins.
São palermices com laivos de estupidez, mas acontece que se vão enraizando, ao passo que o que é nosso vai gradualmente desaparecendo. E não esqueçamos que estas ditas "novidades" têm como objectivo destruir os nossos valores religiosos, morais e sociais, outrora saudavelmente enraizados na nossa identidade.
Ruivanense Adoptivo

Anónimo disse...

Muito Bem dito. bom texto.