sábado, 4 de junho de 2005

Reviver o passado em Ruivães

Cont. da últ. edição



 





 

Não, Ruivães já não era o mesmo! Mas apesar de tudo. Seria sempre minha aldeia, por quem derramei lágrimas na hora em que a deixei. Que mudem as casas, os campos, as pessoas, esse torrão apegado à Cabreira, será sempre a minha terra, e nada mudará o meu sentimento por ela..



 

Foi apenas uma semana que ali passei, num regresso tão desejado, e na hora da partida não chorei como da primeira vez, mas não deixaram de me humedecer os olhos enquanto no meu íntimo pensava: e agora, quando voltarei?



 

Com a tropa à porta, quem diz tropa diz Ultramar – cruel destino a que os jovens dessa geração de sessenta não podiam fugir – quantos anos iriam passar mais até que ali voltasse?



 

Por capricho do destino, voltei bem mais depressa do que julgava. Pouco depois, estava precisamente na tropa, e mobilizado para o Ultramar, voltei a Ruivães para o funeral de meu avô, o ‘Tio João Latoeiro”.



 

Então, sim desta vez é que tinha certeza que iria levar tempo até voltar, pois com a morte do meu avô desapareceu o último elo familiar em Ruivães.



 

Agora vazia, a velha casa onde meu avô criou sete filhos, era o último elemento que ligava o que foi uma grande família a Ruivães. Para agravar esta situação, inesperadamente, uma falcatrua bem montada retirou aos legítimos herdeiros o direito à casa, que foi parar às mãos de uma enteada de meu avô, que mal um dos senhores de capital do burgo lhe abanou com algumas “milenas” logo a despachou.



 

Mas que raio! Tudo se conjugava para que Ruivães, a aldeia do meu coração, a minha terra, fosse no futuro um fruto proibido. Como iria ali voltar? Fazendo turismo?



 

Apertava-se-me o coração sempre que pensava nisso. Porém, minha mãe que ali enviuvara, havia comprado uma casita que entretanto alugou no regresso capital para refazer a sua vida.



 

Era uma réstia de esperança para mais tarde ali voltar.



 

Passaram-se mais alguns anos, o destino entretanto empurrou-me para os confins, até Timor donde voltei adulto e pronto para enfrentar as agruras do destino.



 

Manuel Joaquim F. Barros



 

(Continua)



 





 

in Jornal de Vieira nº 764 de 1 de Junho de 2005


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