Sobre “O Mutilado de Ruivães”
Pediu-me, a minha filha Carla, que tecesse algumas considerações sobre a obra. Que o fizesse sem grandes alegações, de forma simples e resumida.
Não quis deixar de corresponder ao pedido, e aqui estou eu, desprovido de qualquer veia literária a tentar cumprir com as minhas obrigações de pai!...
Aos que lerem este arrazoado peço desculpa, prometendo-lhes que, caso não gostem, não os voltarei a incomodar.
O que hei-de então eu dizer para além daquilo que os autores da obra disseram na respectiva Nota Prévia, que me atrevo aqui a reproduzir?
“A história das pequenas terras vai ficando esquecida diante de certos fenómenos sócio-económicos, derivados do urbanismo avassalador; apagam-se da lembrança dos homens os feitos dos seus antepassados; olvidam-se os fastos de outrora; morre a gesta da tradição, a prática das virtudes ancestrais, a nobreza dos bons costumes regidos na austeridade de princípios morais ainda hoje indiscutíveis, que foram as pedras com que se construiu a Nação, a fizeram grande e a levaram a expandir-se pelo Mundo. Morreu no coração dos homens a poesia que envolve as coisas belas que o Passado nos legou; secaram-se as fontes que nasciam da alma e corriam límpidas para o mar da fantasia e do sonho, mas que ajudavam a viver.”
A obra, da autoria de Mário Moutinho e A. Sousa e Silva, editada no início da década de oitenta do século passado, presenteia-nos com um romance tipicamente português, escrito na linha do Romantismo que marcou a primeira metade do século XIX, sendo simultaneamente um valioso reportório histórico das invasões francesas às lutas liberais.
É constituída por cinquenta e um capítulos, escritos ao longo trezentas e sessenta e duas páginas, sendo o primeiro um retrato paisagístico da antiga e nobre Vila de Ruivães, onde é evidenciado a sua importância no quadro administrativo e estratégico de Portugal da época, sendo nele destacado o envolvimento activo e participativo das gentes daquela terra na luta contra as invasões Francesas, nomeadamente o massacre a que sujeitaram os franceses na Ponte do Saltadouro, quando estes por ali transitavam nas suas deslocações em coluna militar. Este capítulo é completado com informações histórico-administrativas, sobre alguns monumentos de relevo, vias romanas que atravessavam a região, algumas crenças populares, etc..
Prossegue a obra com um romance … (1)
Deve-se então o título de “O Mutilado de Ruivães” à figura de Manuel Sobral, sendo que é nele que assenta todo o romance e é ao longo do mesmo, na sua participação na luta contra as invasões Francesas, que os autores fizeram várias incursões sobre aquele momento histórico e que muito bem deram a conhecer.
A todos os naturais da freguesia de Ruivães em particular, e todos aqueles que se interessam e apreciam “a história das pequenas terras” em geral, aconselho uma leitura atenta à referida obra e convido-os a que se criem os movimentos necessários à reposição do valor estratégico e administrativo da antiga e nobre Vila de Ruivães, que foi sede de importante concelho até 1853, sendo uma das vilas mais antigas de Portugal, como cabeça de concelho até 1834 e pertencente à província de Trás-os-Montes.
Aos políticos em particular apelo que reflictam, se empenhem e exerçam a politica de forma desinteressada e eficaz, conduzindo acções governativas que proporcionem condições de vida condigna àqueles que optarem por continuar a dar vida às “muitas e nobres Vilas de Ruivães” espalhadas pelo país e que, tal como a nobre Vila de Ruivães, se encontram desertificadas, para que a Nota Prévia dos autores deixe de ter sentido.
Aos autores, que não conheci, o meu sincero agradecimento pelo que me ensinaram e pelo orgulho que me fizeram sentir como Ruivanense.
Fernando Silva
(1) Tomamos a liberdade de retirar três parágrafos a este texto, para que os que ainda não leram a obra não percam a vontade de o fazer.
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