domingo, 14 de fevereiro de 2010

Os trilhos da fertilidade
00h30m
PEDRO VILA CHÃ

Populações de Ruivães e Ferral celebraram o Entrudo na ponte da Misarela, um local simbólico para dar as boas-vindas à Primavera e à fecundidade.

As populações de Ruivães e Ferral, dos concelhos de Vieira do Minho e Montalegre, assinalaram, ontem, mais um Entrudo, tendo como cenário a mítica ponte da Misarela, sobre o rio Rabagão. Mais que o Entrudo, a cerimónia é carregada de simbolismo, com as boas-vindas à Primavera e à fertilidade. No limiar do Minho e de Trás-os-Montes, o povo recupera os caretos, a sátira popular e desfia uma tradição que queima o Entrudo e conduz à personificação da Primavera, numa bela jovem que benze os caretos. Segundo Agostinho Vassalo, da organização do Entrudo, "o povo desfila em cortejo espontâneo, com máscaras e roupas tradicionais, preparadas antecipadamente para este dia". O Entrudo da Misarela pretende reaproximar as duas margens do Rabagão, em torno de uma mesma ideia: recriar o Entrudo enquanto celebração da Primavera. Uma evocação à fertilidade e da vegetação com origens no período pré-romano leva velhos e novos a percorrer os escarpados trilhos até à ponte que, por sua vez, encerra uma carga mítica enorme, que confunde referências religiosas e pagãs.

Senhorinhas e Gervázios

Reza a lenda que um fugitivo vendeu a alma ao diabo, para que ele edificasse uma ponte e permitisse a sua fuga. Mais tarde, em confissão, revelou o segredo a um padre que se deslocou ao local e fez a mesma promessa ao diabo, mas, em vez de fugir, aspergiu-lhe água benta com um ramo. Como a ponte ficou benzida, o povo começou a acreditar que lá se poderiam operar milagres. Como havia muitas mães que não conseguiam vingar os filhos, o casal quando sentia que a mulher estava grávida, ia, e vai, para lá antes da meia-noite, leva uma corda e um copo, acende uma fogueira de lume no meio do arco da ponte e espera até passar a 1ª pessoa para lhe baptizar o filho no ventre materno. Ainda hoje existem muitas mulheres que acreditam na lenda. Será que a lenda tem um fundo de verdade? Não sei! A verdade é que no nosso Barroso há muitos Gervásios e muitas Senhorinhas.

 

Sem comentários: