sábado, 30 de novembro de 2013

Moinho em Zebral



Há anos que queria voltar a ver um moinho do nosso rio em funcionamento e se possível registar esse momento em fotografia e vídeo. Conhecedor da totalidade dos moinhos do nosso rio (a menos que algum me tenha escapado em alguma escarpa ou no meio de silvas), sabia que isso só seria possível em Zebral ou Espindo, já que os de cá de baixo estão quase todos alagados, e os do fundo de Vale estão praticamente inacessíveis nesta altura do ano. Em conversa com a minha prima Celeste no mês de Agosto do ano passado, perguntei-lhe como seria possível isso e ela encarregou-se de tratar do assunto. O dia escolhido foi no sábado, 2 de Março, e o moinho foi o da casa da Canela, sendo que quem nos aguardava era a D. Ana do “Jandias”. Este texto pretende ser um pequeno relato dessa visita que nos proporcionou uma tarde bem passada.


Chegados ao lugar da Canela, mais propriamente a casa da D. Ana, ela mandou-nos logo entrar, dizendo que por pouco ainda a apanhávamos a tirar o pão do forno. Mandou-nos entrar na divisão onde tem o forno e lá estava ao lado a maceira com o pão quentinho e bonito em cima.


Saídos dali, levou-nos para a divisão onde tem o seu fumeiro e lá estavam as chouriças e os salpicões entrelaçados na carqueja.


É bom de ver que certas pessoas ainda conseguem manter estas tradições do pão e do fumeiro e por muito que as possam ir adaptando aos novos tempos, mantêm viva uma tradição e podem assim transmitir os ensinamentos que eram a base da sobrevivência dos seus antepassados durante séculos e séculos.


Em cima de um muro já estava um saco com meia rasa de milho para moer. Já tinha sido bom até aqui, íamos agora para o moinho.


Saídos dali entramos no jipe e fomos em direcção aos campos já na encosta por cima do rio. Parado o jipe porque o caminho estreitava, saímos e encontramos a D. Clementina, a quem a D. Ana disse para vir connosco.


Descemos pelo caminho até ao rio por meio de uma mata muito bonita de carvalhos e uma paisagem maravilhosa. Quando começamos a ver o rio reconheci logo o moinho. Já aqui tinha escrito que se trata de um dos moinhos mais bonitos da nossa freguesia, ia ter oportunidade agora de o fotografar por dentro e, a funcionar!


Ao nos aproximarmos a D. Clementina tornou a água para o moinho e começou logo a ouvir-se ela a cair por dentro do moinho.


Entramos. A mó já andava e, enquanto a D. Ana regulava a altura da mó e deitava o milho na tremonha, a Celeste deu-nos a indicação das partes que constituem o moinho. A saber


Tremonha – local onde se coloca o milho que será moído;


Adelha – local por onde cai o milho;


– pedra que tritura o milho;


Tarabelo – pau que está atravessado por cima da mó;


Pouso – local onde a mó está assente;


Rodízio – local onde a água bate e que faz trabalhar o moinho.


Colocou-se o milho na tremonha, vimo-lo cair pela adelha no buraco da mó e passado pouco tempo começou a sair a farinha entre a mó e o pouso, para um pano colocado no chão.


Como o objectivo era apenas ver o funcionamento do engenho e não propriamente produzir farinha da melhor qualidade, levantou-se a mó para ser mais rápido e fazer farelo para deitar às galinhas.


Torneando o moinho cá fora, vimos a água que saía em força do rodízio para cima do rio.


Ficamos ali mais um bocado até ter um saquito cheio e regressamos por outro caminho no meio de uma mata de carvalhos no fundo do lugar de Zebral. Aparte o objectivo principal, sem dúvida que este passeio valeu também pela beleza paisagística do local.


Regressados ao lugar, os agradecimentos – que agora aqui também se reproduzem – à D. Ana do “Jandias”, à D. Clementina e à minha prima Celeste Fraga, por nos terem proporcionado uma tarde muito bem passada.


Mais uma vez, um muito obrigado!


São experiencias destas que devem ser preservadas e passadas às novas gerações, quiçá aproveitar isso para atrair algum turismo e desenvolvimento, contrariando assim a desertificação das nossas aldeias, fica aqui a ideia.


Paulo Miranda
Março 2013


Aqui fica o álbum completo das fotografias:



4 comentários:

Anónimo disse...

São experiências destas e textos como estes que criam em nós a apetência e o gosto por conhecer melhor o módus vivendi das gerações que nos antecederam e que alguns, como é o caso da D. Ana, ainda teimam em saudavelmente preservar.
É aqui que está a grande diferença entre a globalização e a defesa do que é muito - exclusivamente - nosso.. e de que não podemos abrir mão, sob pena de legarmos aos vindouros um vazio humano-cultural difícil de compensar com quaisquer modernismo, por mais sofisticados que possam ser.
Muito obrigado a todos os intervenientes nesta linda história, com o agradecimento muito especial ao Dr. Paulo Miranda por ter a generosidade de a partilhar com os frequentadores desta autêntica Monografia de Ruivães.
Ruivanense Adoptivo

Anónimo disse...

Deliciosos momentos. Deliciosas tradições. Invadiram-nos os cheiros e os sabores

Anónimo disse...

Duas grandes amigas, estas duas tias minhas :) com que tive o privilégio de fazer "estudos" semelhantes bem recentemente!

Muito obrigada pela partilha da tão aguardada reportagem, Paulo!

Já cheira bem aqui, o Natal espreita na esquina com fumegantes couves com feijões e uma docinha farinhota. Mnham Mnham

Paula ;)

Anónimo disse...

Bom revê-la também Amiga Tina!!!!


Paula