Nas minhas deambulações por montes e vales, faço da natureza o
alimento do meu ego, e com ela me extasio, me encanto e recordo!..
A última deambulação foi feita lá para os lados de Jara. Aquele
monte íngreme na encosta norte de Vale, virada para a serra do
Gerês, com o sopé banhado pelas águas do rio Cávado, represadas
em Salamonde, formando a albufeira que se estendo até Cidrós.
Então percorri o velho caminho das Quebradas e, a custo, lá cheguei
onde já não ia há cerca de cinco décadas. Sim, já lá vão quase
cinco décadas!.. Parafraseando um grande amigo alentejano: “o
tempo é um cavalo a galope…“
É verdade. Quando ainda criança, aquele monte era um dos locais
utilizados para pastoreio dos animais, em especial gado ovino e
caprino, sendo a função de pastor frequentemente atribuída aos
mais jovens da casa. E, a minha pessoa, na condição de jovem, para
ali fui mandado exercer tal função que, em boa verdade não
discutia, cumprindo religiosamente.
Naquela altura o monte era plano, mas é mesmo ingreme que se
farta...
Claro que nem tudo era mau. Há um penedo naquele monte que servia de
ponto de encontro aos jovens que por ali se espalhavam no exercício
de actividades similares e ao mesmo tempo local de diversão.
Chamávamos-lhe o penedo do sino, que ainda hoje é assim conhecido
pelos mais entrados na idade.
Como disse no início, a natureza encanta-me por tudo quanto me
proporciona. E, uma das muitas belezas com que aqueles montes nos
presenteiam, são as formações rochosas que tanto nos dão a
sensação de beleza como de medo. As vistas do alto da Ameixeira em
Vale sobre as encostas do rio Saltadouro são a prova disso e não
passarão despercebidas àqueles que têm sensibilidade e gosto.
Ora, o penedo do sino, para mim, é uma beleza natural que se destaca
do restante penedio que salpica toda a encosta. Trata-se de uma
formação rochosa como muitas outras que por ali abundam. Só que
esta, dispõe de um penedo de dimensões consideráveis pousado na
rocha principal, quase em desequilíbrio, ameaçando despenhar-se
monte abaixo. Aliás, mesmo em criança, quando os perigos são
menosprezados, sempre tive receio em passar pela parte de baixo da
rocha, com medo da queda daquele penedo.
Mas a designação de penedo do sino resulta do seguinte: a rocha
principal, por força dos efeitos da erosão ao longo dos tempos
fragmentou-se, abrindo fendas entre as diferentes partes, sendo que,
um dos fragmentos, com forma pontiaguda, ficou encaixada entre as
partes maiores, ficando com a parte inferior assente algures no fundo
e a parte mais grossa virada para a superfície. Aquele fragmento
ficou solto, sendo possível bambeá-lo para um lado e para o outro,
ao ponto de bater nas laterais, provocando um som que foi equiparado
ao de um sino. Daí o nome de penedo do sino.
(O penedo no seu
pedestal, vigilante, pousado na rocha fendida, na qual assenta)
(vista lateral)
( a rocha que o sustenta)
Estive lá, mas aquele
fragmento, que designo por “badalo”, mal se move e não provoca
qualquer som. Isto porque na fenda se acumulou terra e ali nasceu
vegetação que impede de causar a sensação de outrora.
E como que num assomo
de catarse por ali deambulei, regressando por quelhas e carreiros com
a nostalgia dos tempos de meninice e a sensação de um até sempre…
E descrevi para não
esquecer… e informar.
Braga, 14 de Janeiro de 2014
Fernando Araújo da Silva