O caso passou-se entre 29 Dezembro de 2001 e 4 de Janeiro de 2002. José Luís Martins, 37 anos, sofreu um acidente de viação e esteve seis dias debaixo do seu automóvel no fundo de uma ribanceira, em Montalegre.
“Não sou muito de ir à missa e acreditar nessas coisas da Igreja, mas os dias que estive debaixo do carro, sem dormir e sem comer, levaram-me muitas vezes o pensamento para a Senhora de Fátima, a quem pedi que me salvasse. Não sei se o estar vivo não será mesmo um milagre.” As palavras de alívio foram ditas ao CM a 5 de Janeiro de 2002, ainda numa cama de hospital.
Tudo se passou na madrugada de 29 de Dezembro de 2001, quando José Luís Martins, natural de Santa Leucádia, freguesia de Ruivães, Vieira do Minho, regressava a casa após uma ‘noitada’ nas discotecas do Barroso. “Eu propunha-me fazer a viagem devagar e com cuidado porque as estradas estavam cheias de gelo e muito escorregadias. A certa altura, quando me encontrava próximo do miradouro da Barragem [em Salto, Montalegre], o carro começou a fugir para a direita, numa curva com bastante visibilidade, saiu da estrada, galgou o miradouro e caiu no precipício. Não sei quantos tombos dei...”, contou José Luís Martins.
O infortunado emigrante ali ficou – preso debaixo do automóvel, um Peugeot 205 branco de matrícula francesa – durante seis dias, até ser descoberto por um condutor que parou para descansar. “Fiquei com os pés de fora do carro, virados para baixo”, recordou na altura. Para além do muito frio que passou, os momentos mais dolorosos aconteceram quando a chuva caiu pela encosta e as suas roupas ficaram encharcadas.
“Em nenhum dos dias ou noites consegui dormir. Sempre que sentia um carro a passar na estrada gritava com quanta força tinha para ver se alguém me ouvia, o que felizmente veio a acontecer”, afirmou enquanto ainda estava internado na Unidade de Cirurgia do Hospital Distrital de Chaves. O homem viria a ser encontrado, por casualidade, a 4 de Janeiro, seis dias depois do acidente. Acabou por passar o Ano Novo da pior forma, ferido e debaixo do seu carro.
A descoberta foi feita por António Lopes Alves, natural de Venda Nova, Montalegre, que parou naquele local por mero acaso, como o próprio confessou ao CM. “Dei conta de que alguém gemia de dor no fundo da ravina. Quando vi que era um homem que estava debaixo do carro, disse-lhe logo: ‘Tenha calma que você não demora a sair daí para fora’.”
De imediato, o telefonou para a GNR e para os Bombeiros Voluntários de Salto a pedir socorro. “O mais difícil era o acesso ao local onde ele estava. De resto, juntou-se rapidamente muita gente pronta a ajudar a retirar o carro de cima dele. Só se viam os pés de fora, tudo o resto estava debaixo do veículo”, contou-nos António Lopes Alves.
José Luís Martins estava desidratado e desnutrido, muito perto da hipotermia. Na altura, um médico revelou que o facto de ter ficado com o carro em cima ajudou-o a suportar o frio e as geadas.
Antes de ter sido encontrado, a família de José Luís Martins tinha andado à sua procura nas áreas de Braga e Vieira do Minho. “Nunca pensaram que eu tivesse vindo para a zona onde se deu o acidente”, afirmou.
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