Junto
aos caminho em Trás-os-Montes há muitas águas boas e fresquinhas. Passam-se a
vau, a direito, se há pouca água e pouca profundidade.
Há
pontes dum ou mais arcos, romanos ou góticos. São lindíssimas, cheias de
história e lendas com a da Misarela.
Pontilhão –
é a ponte de pedra mais pequena, sobre um regato, com grandes lousas, sobre
colunas bem alicerçadas. Em certos pontilhões estas lousas apoiam sobre traves
de carvalho. Em Fiães, a ponte sobre o Cávado é de pau.
Pondra,
ou ponderado – são grandes pedras nos
rios e regatos com pouca profundidade, para passar a pé. Têm as pedras da
largura do passo da gente, de 10 ou 20 pedras. Os bêbados que por ali abundam
se por lá passam, é caída certa.
Cano – é um rego largo
coberto com lousas ou pedras por cima, para se poder passar nele ou para
impedir que o rego se atupa. Alguns passam debaixo de casas e de cortes. São de
pedra.
Caneleiro ou
caleiro – é uma cana de pau ou de pedra,
que atravessa outro rego, que leva água para outro destino. Há-os nos lameiros
para aproveitar águas do mesmo dono, ou para fazer passar a água, onde, doutro
modo, não subiria.
Porto – sítio que junta
muita água, em sítio estreito, passando-se a pulo, ou salto, ou por pondras,
pedras ou pontilhão.
Cada
povo tem a sua lei centenária ou milenária pela qual ainda hoje se rege, na
rega.
Há
vários motivos de zangas e rixas por causa da rega, das horas, dos roubos de
água, etc.
Junta-se
o povo aí por Junho para abrir os regos da rega, que vêm de longe das altas
serras e para grandes poças, na coroa do povo. Juntam a água de todos os montes
e nascentes, tirando-a aos lameiros particulares, que neste período têm de a
ceder.
As
poças estão cheias, por causa dos incêndios, tão frequentes. Se alguém a abrir
tem que a tornar a encher, nas horas da sua rega. Nalgumas terras cada lavrador
tem duas horas de rega de dia, e de noite, quatro, em cada roda. Os cabaneiros
têm uma hora, por dia, na roda, e nada de noite. De noite, começa por uma ponta
do povo e de dia noutra. Alguns povos têm várias águas e vários regos. Cada
água e rego tem os seus herdeiros, pois a água herda-se, com as terras. Cada
herdeiro conforme são os terrenos, assim tem mais água ou menos.
Noutras
terras o que tem mais horas a regar, tapa as poças à noite, ao escurecer, e
abre-as de manhã cedo e avisa os vizinhos que regam no mesmo dia, para regarem
a seguir a ele. Assim uns regam conforme os terrenos, durante um dia seguido,
ou 12 horas, 6, 4, 3, 2, 1, etc.
As
horas são marcadas pelo sol, com relógios de pedra, ou por convenções de horas;
assim, é meio dia, ao dar o sol em tal sinal, ou pedra. (Em Vilar eram as
esquinas do Paço – em Cabril é a Pedra do Sol). Hoje há os relógios de torre,
de sala e de bolso ou pulso. Nem saches
em Maio nem regues antes de S. Paio.
Há
outras águas mais abundantes que dão para dois vizinhos ao mesmo tempo, sem
precisar de poças. O que tem mais horas tem a preferência de regar antes. Em
Tourém no tempo da rega fazem-se os roteiros, ou bilhetes, guiando-se por um
roteiro antigo, dando ao povo, junto, a cada qual o seu bilhete dizendo as
horas e com quem tem de se juntar para regar.
É a
Junta de Freguesia quem faz o roteiro.
A
tanda é o período de 15 dias de água, por vários vizinhos.
Retirado do livro “Etnografia
Transmontana – Usos e Costumes de Barroso”, de António Lourenço Fontes, já aqui
mencionado.
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