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- Espere aí. Mas esse tal de
Lamalonga não tinha medo que lhe apreendessem os burros?
- Devia ter guias.
- Passadas por quem?
- A Direcção-Geral de Minas.
- E qualquer um as podia pedir?
- Não. Apenas aqueles que tinham
concessões legalizadas, género Borralha, Carris, a tal de que lhe falei perto
da Portela do Homem, uma outra de alemães na serra da Cabreira. Esses é que
requisitavam as guias à Direcção-Geral. Diziam: estamos a explorar tantas
toneladas de volfrâmio por mês. Mandem-nos guias para o transportar para as
separadoras. Aliás o volfrâmio só poderia ser considerado roubo dentro dos
limites do Couto Mineiro. Desde que os ultrapassasse, estava salvo. Um amigo
meu negociou toda a vida com outro que tinha uma concessão aí para os lados de
cerva e uma separadora nos arrabaldes do Porto. O meu amigo colocava o minério
da Borralha na serra da Cabreira. Daí em diante seguia como sendo de Cerva.
Tudo fácil. Quando o minério próprio não chegava para alimentar a Fundição, a
Borralha adquiria-o noutras minas, tais como: Panasqueira, Argozelo, Valdarcas,
Cerva, Vale das Gatas. Um dia o técnico lembrou-se de examinar uma encomenda
supostamente vinda de outra mina. Era volfrâmio da Borralha… Tudo fácil, como
vê.
- Falou aí numas minas alemãs na
Cabreira. Nunca tinha ouvido falar em tal.
- Bem. Chamar aquilo minas é
favor. Ergueram meia dúzia de casitas de madeira, tinham lá meia dúzia de
homens, fizeram uns buracos, mas suponho que nunca lá exploraram nada. Aliás à
Cabreira chegavam apenas uns resquícios duns filões vindo da Borralha. De modo
que a suposta exploração dos Alemães se limitava a comprar o volfrâmio aos
contrabandistas e a despachá-lo legalmente para a costa.
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Retirado do livro "A Fárria" de Bento da Cruz.
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