“Ruivanês”!
Tenho o pressentimento de que quanto mais avanço na idade, mais me vem à lembrança a minha infância, toda ela vivida em Ruivães, e o meu coração transborda com essa evocação.
Um dia parti, ainda rapazinho, trocando a vida de aldeia pela grande urbe, e muito me custou adaptar nalguns aspectos, sendo o mais dificil o sotaque tipicamente minhoto que era motivo de chacota.
Carregava nos “esses”, trocava os “vês” pelos “bês”, tudo que envolvia o “che” era bem carregado.
Os anos passaram, e aos poucos acabei por me integrar linguisticamente, tal como noutras situações.
Agora, vem-me à lembrança a linguagem com que aprendi a falar em Ruivães, e nem mesmo ao frequentar a escola se como é natural corrigi muita coisa, o sotaque permaneceu e acompanhou-me por muitos anos.
Era de facto uma linguagem estranha, e se hoje se empregassem a maioria desses termos, estas últimas gerações não perceberiam patavina.
Pena é, que nenhuma entidade tenha tido o cuidado de elaborar um registo desse pseudo dialeto, tal como do cancioneiro, de usos e costumes e outros elementos identificativos de uma região e de um povo, e assim se perde um patrimonio histórico e moral que devia ser preservado.
Essas falas, estou em crer que em parte se devem à proximidade da Galicia, porque alguns sinonimos e terminologias de palavras, são comuns ao galego. Prova disso, numa das minhas idas à Galicia, levei um raspanete em Orense quando me expressei em castelhano (que domino bem) e o sugeito ao topar que eu era português, disse-me meio ofendido em “portugalego”:
- Amigo; aqui na Galicia se é português fale em português! Entendemo-lo melhor do que em castelhano.
Aprendi a lição, e vejamos alguns exemplos de origem galega que em Ruivães empregavamos; “Cachicha” (porcaria), “chicha” (carne), “guicho” (esperto), “trilhar” (magoar), “quilhar” (tramar), “assistar” (saltar, do tipo «uma fulmega assistou-me para o olho»)”. Mais ainda, “escabichar” (raspar), “escarrachar” (abrir as pernas com uma queda), “pinchar” (saltar), “espichar” (salpicar”), “atilho” (fio), “engaranhar” (mãos paralizadas pelo frio), “esbugalhar” (arregalar os olhos), “carranha” e “moncos” (ranho), etc.
Outras palavras eram pronunciadas que hoje não se utilizam, como “cisco” (impureza na vista), “bulha” (confronto de porrada), “begueiro” (burro), “esgaçar” (esforçar), “arremedar” (imitar gozando), etc.
A estas expressões e terminologia de fala na nossa vila, porque não considerá-las um dialeto local a que por exemplo poderiamos chamar “ruivanês”.
E termino com uma expressão 100% espanhola, mas que muito se utilizava em Ruivães no meu tempo. - “Canté!...” (Oxalá!...)
Os anos passaram, e aos poucos acabei por me integrar linguisticamente, tal como noutras situações.
Agora, vem-me à lembrança a linguagem com que aprendi a falar em Ruivães, e nem mesmo ao frequentar a escola se como é natural corrigi muita coisa, o sotaque permaneceu e acompanhou-me por muitos anos.
Era de facto uma linguagem estranha, e se hoje se empregassem a maioria desses termos, estas últimas gerações não perceberiam patavina.
Pena é, que nenhuma entidade tenha tido o cuidado de elaborar um registo desse pseudo dialeto, tal como do cancioneiro, de usos e costumes e outros elementos identificativos de uma região e de um povo, e assim se perde um patrimonio histórico e moral que devia ser preservado.
Essas falas, estou em crer que em parte se devem à proximidade da Galicia, porque alguns sinonimos e terminologias de palavras, são comuns ao galego. Prova disso, numa das minhas idas à Galicia, levei um raspanete em Orense quando me expressei em castelhano (que domino bem) e o sugeito ao topar que eu era português, disse-me meio ofendido em “portugalego”:
- Amigo; aqui na Galicia se é português fale em português! Entendemo-lo melhor do que em castelhano.
Aprendi a lição, e vejamos alguns exemplos de origem galega que em Ruivães empregavamos; “Cachicha” (porcaria), “chicha” (carne), “guicho” (esperto), “trilhar” (magoar), “quilhar” (tramar), “assistar” (saltar, do tipo «uma fulmega assistou-me para o olho»)”. Mais ainda, “escabichar” (raspar), “escarrachar” (abrir as pernas com uma queda), “pinchar” (saltar), “espichar” (salpicar”), “atilho” (fio), “engaranhar” (mãos paralizadas pelo frio), “esbugalhar” (arregalar os olhos), “carranha” e “moncos” (ranho), etc.
Outras palavras eram pronunciadas que hoje não se utilizam, como “cisco” (impureza na vista), “bulha” (confronto de porrada), “begueiro” (burro), “esgaçar” (esforçar), “arremedar” (imitar gozando), etc.
A estas expressões e terminologia de fala na nossa vila, porque não considerá-las um dialeto local a que por exemplo poderiamos chamar “ruivanês”.
E termino com uma expressão 100% espanhola, mas que muito se utilizava em Ruivães no meu tempo. - “Canté!...” (Oxalá!...)
Manuel Joaquim F. Barros
2021-01-29
2021-01-29
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