domingo, 10 de novembro de 2024

«Cartas de Foral e Juntas de Freguesia»


 

«O mar e os rios»


 

«Os castigos da infância»



«Para quem como eu viveu a infância em Ruivães, na dé­cada de cinquenta do sé­culo passado, impreteri­velmente ficou marcado no seu subconsciente por si­­tuações que o tempo não apagou. Não se questiona o amor e carinho que os pro­genitores dispensavam, mas sim alguns métodos arcaicos utilizados na nossa educação, que hoje seriam condenáveis. Dessas, co­mo exemplo, destaco algumas por mim vividas: - Pronunciar obscenidades, era banal mesmo desde tenra idade, mas minha avó, muito educadinha, se me “espalhasse”, logo me enchia a boca com pi­menta. O efeito que isso pro­vocava, é de imaginar. - Outra prática, quando o meu comportamento ultrapassava as marcas, era ela colher um ramo de urtigas, descia-me os calções, e o ra­binho virava borbulhado quanto baste, impedindo de me sentar por algum tempo. - Havia ainda outras formas de tortura, mas a que mais me afectou foi por causa das lombrigas! Era um mal que afligia a criançada, e o remédio usual era enfiar numa linha cabeças de alho formando um colar, que tínhamos de usar ao pescoço até secarem. Se as tirássemos, “levávamos pa­ra assar”.


O que resultou daí? Fiquei traumatizado, ganhei uma aversão ao alho, que ho­je aos setenta e sete anos nem o cheiro dele to­lero. – Também as horas de recolhermos a casa ao fim do dia, tinha de ser ao to­que das Trindades. Então, mal soasse a primeira badalada, era uma correria em todas as direcções e ai de quem prevaricasse, lá vi­nha o castigo físico, no meu caso uns mimos com a régua de funileiro do meu avô. Mas pronto! Apesar destes castigos, cruéis, con­sidero ter recebido uma educação esmerada sem paralelo ao que hoje se vê. - Outra situação na for­ma de ameaça, era uma tal “Coca”, e minha avó (que me criou) era useira e vezeira a ameaçar-me com ela. - «Come a sopa, ou vou chamar a Coca!» Sem­­pre que a contrariava, lá vinha ela com a Coca! Far­to dessa ameaça, pergun­tei ao meu avô que era isso da Coca. Respondeu que era um bicharoco muito feio, enorme, que comia pes­soas e animais. É claro, pas­sei a comer a sopa e a obedecer mais à minha avó! A propósito, há uns anos atrás, chegou-me às mãos um boletim informativo datado de 1734, ilustrado com desenho de um monstro, e que dizia: “Relaçam de uma for­midável fera, que sahiu da Montanha do Gerez, junto à Vila de Monte Alegre na província de Trás os Montes, no mez de Mayo deste anno de 1734 e dos grandes estragos, que tem co­metido nas gentes, e gados, dos Lugares circundantes”.
Presumivelmente, vem desse tempo chegando aos nossos dias a aparição deste monstro que o po­vo baptizaria de “Coca”. Cu­­rioso é que o dicionário re­fere uma tal Coca, ou “Santa Coca”, “papão”, “es­­­pan­talho”, etc. com que se ameaçam crianças deso­be­­dientes. Em Monção, des­de há séculos que se le­­va a efeito uma cerimónia in­tegrada na procissão Corpus-Christi, com a imagem de São Jorge apresentada com um dragão trespassado por uma lança, encenando-se uma batalha contra a fe­­ra a que chamam...Coca”.
Enfim! Chega de sustos e castigos, saudações ruiva­nenses.»

Manuel Joaquim F. de Barros
2023-01-02

Retirado d' O Jornal de Vieira nº 1166 de 1 de Janeiro de 2023 https://www.jornaldevieira.com/do_cavado_ao_ave/?idart=19171

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