Mostrar mensagens com a etiqueta fernando araujo silva. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta fernando araujo silva. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 1 de março de 2018

«Cabreira»




Nada me move mais do que uma boa caminhada pelos rudes caminhos da minha aldeia, ora sob o manto da folhagem caída das árvores, ora sob as ervas espontâneas rebeldes e os matos desorganizados, apreciando em deleite a paisagem serrana, respirando o ar inebriante que refresca e alimenta a alma de um provinciano. 
E contemplo o espaço; aquele espaço que rodeia o meu ponto de observação, do qual sempre descubro algo de diferente aqui ou acolá; algo que ainda não havia retido na minha mente: uma árvore, uma rocha, um arbusto, etc.. , sempre a descobrir… 
E a Serra da Cabreira lá está. Aquela serra que me oferece uma paisagem de belo postal, que me saúda e eu saúdo todas as manhãs quando me levanto pela manhã nos dias da minha estadia naquelas paragens. E da varanda da minha casa percorro com o olhar toda a encosta norte, desde Zebral, subindo ao Talefe, descendo a Espindo, voltando a subir à serradela em observação de todos os seus recortes, riachos, colos, caminhos, etc… e paro; paro no negrume com que em Outubro foi coberta depois de flagelada pelas chamas que lhe consumiram o manto verde e lhe levaram a alegria, deixando-a despida, sem vida.
Já o Inverno vai a meio do seu curso e o negrume persiste, dando a sensação de que a serra perdeu o fulgor, que no seu ventre já não existem forças capazes de criar, de se regenerar e dar alegria, como que em sinal de castigo daqueles que a ignoram, a ultrajam, a exploram e não a respeitam. 
Que triste estará aquela cabreira que se apaixonou pelo cavaleiro elegante, e que triste cenário eu vejo decorrido este tempo todo após o flagelo do fogo. O tempo passa, as chuvas lavam a crosta e o homem não intervém: não planta, não semeia, não previne, não acautela, e como se nada se tivesse passado, encolhe os ombros e tapa os ouvidos. 
Devolver a vida à serra não pode passar apenas e só por ações de charme e manifestação de boas intenções, nem esperar que lendas de cabreiras e fidalgos lhe devolvam a beleza, ou que grupos de cidadãos bem-intencionados plantem meia dúzia de espécies num dia de festa. Importa dedicar-lhe trabalho e, com a candidatura aos necessários apoios estatais e/ou comunitários, elaborar estudos que conduzam à valorização do espaço no sentido da criação de infraestruturas (abertura de acessos, construção de reservatórios de água em pontos estratégicos, pontos de observação, etc., etc...) e consequentemente projetos de florestação e reflorestação para que daquela serra se venha a retirar a riqueza que ela há muitos séculos está disposta a dar e que, mesmo mal cuidada, alimentou muitas gerações. 
E nas minhas caminhadas, do ponto de observação, anseio ver o manto verde da Cabreira…
Ruivães, 2018 – 02 – 11 - Fernando Araújo da Silva

sexta-feira, 31 de março de 2017

«Posto Avançado de Socorros de Ruivães - um problema»






Na sequência de uma convocatória às populações da União das Freguesias de Ruivães e Campos, efetuada pela respetiva junta da União das freguesias, foi levada a efeito, no dia 19 de março de 2017, pelas 14h30, uma assembleia alargada no edifício que serviu de quartel à secção dos Bombeiros Voluntários de Vieira do Minho em Ruivães, onde foram postos em discussão: 
- Situação de funcionamento da secção de Ruivães/posto avançado de socorros; 
- Estado de degradação do edifício. 
Também ali me desloquei porque entendi que não deveria ficar indiferente a tal assunto, tanto por razões de cidadania como por necessidade de apreensão das questões de funcionamento daquela infraestrutura que, em boa verdade, me era um tanto nublosa.
Confesso que fiquei impressionado com tão elevada adesão à convocatória; facto que mais me convenceu da preocupação das populações que vivem inseguras, na senda do abandono, da centralização, da falta de meios, da interioridade, do adornar do país ao litoral; massacradas pelo encerramento dos serviços essenciais, sem que encontrem respostas que invertam o problema e aliviem as preocupações. 
Todas as entidades que se dignaram marcar presença na reunião à volta do assunto principal da convocatória, se pronunciaram no sentido de serenar as populações. O presidente da Câmara Municipal de Vieira do Minho, referiu que durante a magistratura do seu mandato, dentro do que legalmente lhe for possível, tudo fará para que a Câmara apoie o funcionamento do Posto Avançado de Socorros; a presidente da Assembleia Municipal de Vieira do Minho garantiu que, dentro das competências legais tudo fará para garantir o bem-estar das populações; o representante da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vieira do Minho (DAHBVVM), fazendo alusão ao número de intervenções/ocorrências daquele Posto de Socorros, citou custos envolvidos com o funcionamento e adiantou que o Posto não era para encerrar; O Comandante dos Bombeiros Voluntários de Vieira do Minho defendeu que o serviço dos Bombeiros em Ruivães deve ser mantido, mas que, por insuficiência de meios humanos, tanto na sede em Vieira como em Ruivães, e por necessidade de dar resposta ao elevado número de solicitações, para cumprimento de escalas e horários de trabalho, teve de fazer deslocar para a sede o efetivo de Ruivães, sendo que espera a resolução do problema da falta de efetivos por parte da Direção da Associação, pela contratação dos elementos necessários para suprir as necessidades; o presidente da união das freguesias de Ruivães e Campos não deixou de expressar o seu descontentamento e preocupação com fecho do Posto de Socorros e apelou para a resolução do problema que afeta as populações. Por fim, a intervenção entusiasmada de Manuel Azeitono que, manifestando a sua revolta com a deslocação do efetivo de Ruivães para Vieira e o descontentamento pelo fecho do Posto, defendendo que aquele equipamento, que foi conseguido à custa de muito empenho, sacrifício e tenacidade, que pertence a Ruivães, deve funcionar e estar ao serviço do povo em permanência. 
Houve intervenções sérias e responsáveis a partir da assembleia, apelando a todos os responsáveis para que seja mantido em funcionamento aquele equipamento de proximidade. 
Em boa verdade não se vislumbraram discordâncias significativas quanto à necessidade e apoio à manutenção em atividade do Posto Avançado de Socorros de Ruivães, mas também não vislumbrei ali compromissos sérios e vincados de que aquele Posto se irá manter em funcionamento. Aliás, perante o cenário que ali foi apresentado, entendo que ninguém poderá assumir tal compromisso (pelo menos as entidades presentes na mesa) mas, pelos vistos, o problema poderá ser resolvido pela Direção da AHBVVM com a contratação dos elementos em falta à corporação. Sim, só ela poderá e deverá equacionar a resolução do problema. 
Claro que se coloca sempre como contra-ponto as contingências financeiras, mas essas, com gestão parcimoniosa, responsável e equitativa sempre se dará resposta às necessidades. Até porque não é na abundância de meios que se afirma a boa gestão, porque com o muito qualquer um o faz. A boa gestão está em fazer bem com menos… 
De qualquer forma, todos os meios que possam estar ao serviço da segurança e bem-estar das populações devem ser acarinhados, mantidos e até promovidos junto de quem deles precisa, sendo os Bombeiros um desses meios essenciais, muito mais relevantes em áreas do interior, semi-despovoadas, envelhecidas, onde os factores da solidão, do abandono, dos parcos recursos e da insegurança mais se notam. 
Mas não é só a população residente que deve ser tida em conta. Também quem passa e nos visita, essencialmente os turistas que não sentindo segurança não vêm para o interior. 
Pela leitura dos números apresentados pelo representante da Direcção da AHBVVM fiquei com a impressão de que se quis alegar que o funcionamento do Posto de Socorros de Ruivães se traduziu em custos elevados para o número de intervenções/ocorrências registadas. Se assim foi, entendo errada tal leitura, até porque o socorro não tem preço. Seria muito bom que tivéssemos bombeiros bem equipados e aquartelados, em permanente formação e treino durante 365 dias por ano, sem que houvesse necessidade de qualquer intervenção. Era sinal que o país estava saudável, seguro e que todo o cidadão cumpria as regras da vida em comunidade, e que os bombeiros existiam apenas e só como reserva para eventualidades. 
Mas mesmo que nos 365 dias se socorresse uma só vítima e se salvasse uma vida, ficaria justificado o orçamento daquele ano.
Mas nem a propósito. No dia 19 de Março de 2017, o mesmo dia em que decorreu a reunião em Ruivães, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Guimarães assinalava o 140º. Aniversário com uma cerimónia de homenagem, inauguração de uma viatura nova e condecorações diversas. Aquela cerimónia foi presidida pela ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, que destacou o reforço do investimento no sector dos Bombeiros e enalteceu o papel “insubstituível” das corporações e lembrou um investimento de 40 milhões de euros e de benefício de cerca de 110 associações humanitárias de bombeiros. Não sei se a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vieira do Minho faz parte daquele número… 
De qualquer forma, apela-se a todas as entidades ligadas ao dossier do Posto de Socorros Avançado de Ruivães o empenho determinado, por forma a que seja devolvida a segurança e confiança às populações, às quais sempre se exige colaboração, no sentido de minimizar as contingências que dificultam o respectivo funcionamento. Garanto que, da minha parte, me farei sócio…

Fernando Araújo da Silva
2017-03-29

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A BOTA CORTADA…


 


Era uma bota senhores, era uma bota!...
É verdade. É uma bota cortada que fez parte de um par que foi calçado por gente; gente de trabalho, de luta, de persistência, de sacrifício que calcorreou caminhos, vales e montes, buscando na terra que amanhou, nos montes que desbravou, nos animais que pastoreou o incerto da sua subsistência e dos seus.
Podia ser uma bota trabalhada para uma qualquer exposição internacional da autoria da artista plástica Joana Vasconcelos com patrocínios do Secretaria do Estado da Cultura e à custa dos impostos que todos nós pagamos, mas não, é uma bota de gente bem real: de um António, Manuel, Maria, Clara, etc. e que esgotada por já não cumprir a sua missão de protecção de calcantes, foi abandonada na berma do caminho e ali ficou à mercê da natureza que fez dela uma obra de arte como a claramente vista.
É verdade. A borracha resistente ao tempo e à erosão expôs-se ao musgo que lhe emprestou a imagem de um filme de encanto.
É uma bota de borracha cortada, abandonado, que encontrei durante uma das minhas deambulações pelos montes de Vale, e me convidou para, através dela, homenagear os homens e mulheres que durante séculos calcorrearam os caminhos agrestes, mal alimentados, mal agasalhados e mal calçados em busca do pão, fazendo-me lembrar as botas de Judas, no sítio onde ele as perdeu.
Era um par de botas!...
Vale, 2014/11/30

Fernando Araújo da Silva

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Penedo do sino


(carregar na imagem para aumentar)



Artigo publicado n' O Jornal de Vieira nº 963 de 15 de Fevereiro de 2014. Pode também ser visto aqui.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Penedo do sino


 Nas minhas deambulações por montes e vales, faço da natureza o alimento do meu ego, e com ela me extasio, me encanto e recordo!..
A última deambulação foi feita lá para os lados de Jara. Aquele monte íngreme na encosta norte de Vale, virada para a serra do Gerês, com o sopé banhado pelas águas do rio Cávado, represadas em Salamonde, formando a albufeira que se estendo até Cidrós.
Então percorri o velho caminho das Quebradas e, a custo, lá cheguei onde já não ia há cerca de cinco décadas. Sim, já lá vão quase cinco décadas!.. Parafraseando um grande amigo alentejano: “o tempo é um cavalo a galope…“
É verdade. Quando ainda criança, aquele monte era um dos locais utilizados para pastoreio dos animais, em especial gado ovino e caprino, sendo a função de pastor frequentemente atribuída aos mais jovens da casa. E, a minha pessoa, na condição de jovem, para ali fui mandado exercer tal função que, em boa verdade não discutia, cumprindo religiosamente.
Naquela altura o monte era plano, mas é mesmo ingreme que se farta...
Claro que nem tudo era mau. Há um penedo naquele monte que servia de ponto de encontro aos jovens que por ali se espalhavam no exercício de actividades similares e ao mesmo tempo local de diversão. Chamávamos-lhe o penedo do sino, que ainda hoje é assim conhecido pelos mais entrados na idade.
Como disse no início, a natureza encanta-me por tudo quanto me proporciona. E, uma das muitas belezas com que aqueles montes nos presenteiam, são as formações rochosas que tanto nos dão a sensação de beleza como de medo. As vistas do alto da Ameixeira em Vale sobre as encostas do rio Saltadouro são a prova disso e não passarão despercebidas àqueles que têm sensibilidade e gosto.
Ora, o penedo do sino, para mim, é uma beleza natural que se destaca do restante penedio que salpica toda a encosta. Trata-se de uma formação rochosa como muitas outras que por ali abundam. Só que esta, dispõe de um penedo de dimensões consideráveis pousado na rocha principal, quase em desequilíbrio, ameaçando despenhar-se monte abaixo. Aliás, mesmo em criança, quando os perigos são menosprezados, sempre tive receio em passar pela parte de baixo da rocha, com medo da queda daquele penedo.
Mas a designação de penedo do sino resulta do seguinte: a rocha principal, por força dos efeitos da erosão ao longo dos tempos fragmentou-se, abrindo fendas entre as diferentes partes, sendo que, um dos fragmentos, com forma pontiaguda, ficou encaixada entre as partes maiores, ficando com a parte inferior assente algures no fundo e a parte mais grossa virada para a superfície. Aquele fragmento ficou solto, sendo possível bambeá-lo para um lado e para o outro, ao ponto de bater nas laterais, provocando um som que foi equiparado ao de um sino. Daí o nome de penedo do sino.


(O penedo no seu pedestal, vigilante, pousado na rocha fendida, na qual assenta)



(vista lateral) 



 ( a rocha que o sustenta)

Estive lá, mas aquele fragmento, que designo por “badalo”, mal se move e não provoca qualquer som. Isto porque na fenda se acumulou terra e ali nasceu vegetação que impede de causar a sensação de outrora.
E como que num assomo de catarse por ali deambulei, regressando por quelhas e carreiros com a nostalgia dos tempos de meninice e a sensação de um até sempre…
E descrevi para não esquecer… e informar.
Braga, 14 de Janeiro de 2014

Fernando Araújo da Silva

domingo, 12 de janeiro de 2014

Subi a S. Cristóvam


Num destes dias direccionei a agulha para S.Cristóvam.
À medida que ia subindo o caminho até à Portela de Paredes, fui reparando na degradação que as pequenas parcelas de terreno adquiriram pelo abandono da agricultura; aquelas parcelas que deram pão e vinho, e sustentaram gerações. E o abandono, que trouxe vegetação densa e incontrolada, despertou o apetite naqueles que, sem alma, sem civismo, sem consciência ambiental e sem norte mental, reduziram a negro pelo fogo o verde e desnudaram a crosta, transformando a manta morte em cinzas que, arrastadas pela água das chuvas, empobrecem e desertificam.
Segui pelo caminho velho, entre as terras do “Escaleira” e terrenos meus. Aquele caminho plano, ladeado por muros antigos, de pedras em bruto e toda a paisagem envolvente, emprestam ao local beleza impar.
Depois de ter feito uma visita aos meus terrenos, lá subi ao Outeiro de S.Cristóvam. Trepei ao penedo maior e lá estão, escavadas na pedra,  as marcas deixadas pelos nossos antepassados. Dali se vislumbra paisagem de excelência, com domínio sobre as serras da Cabreira e Gerês, com horizonte visual que se estende até ao limite poente da freguesia Ruivães e observação plena sobre Fafião, Pincães e Cabril.
E ali me deixei extasiar por toda a envolvente e cogitei: que povo, que gente, que organização social, que modo de vida ali teria existido?. E que crenças ou Deuses os guiaram  ?...  Que importância social teriam os mortos sepultados nas sepulturas escavadas na rocha granítica? Que templos ali teriam existido?
Já no recato do lar, de pantufas calçadas, lembrei-me de uma interpretação produzida pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho sobre o povoado de S.Cristóvam, em documento para proposta de classificação como Imóvel de Interesse Público (ou Sítio de Valor Regional), que a seguir transcrevo:
“Interpretação: Com base na ergologia dos materiais, interpretamos o primeiro conjunto de vestígios como ruínas de um povoado ocupado em época romana. Dominando a encosta que faz a passagem do vale do rio Cávado ao vale do rio Rabagão, o povoado de S. Cristovam revela uma estratégia de implantação claramente relacionada com a passagem da via romana XVII, que ligava Bracara Augusta a Aquae Flaviae. Pode até admitir-se, tendo presente o achado dos miliários da Portela de Rebordelos (ou Rebordendo) e de Botica, que o seu traçado servia directamente o povoado de S. Cristovam. Considerando o contexto arqueológico próximo, em que se destacam os povoados fortificados de Outeiro do Vale, Ruivães e de Linharelhos, Salto, pode considerar-se que o povoado romano de S. Cristovam seria um importante vicus, podendo inclusivamente colocar-se a hipótese de corresponder à mansio Salacia, uma das três que serviam a via XVII entre Braga e Chaves. O segundo grupo de vestígios interpretam-se como ruínas de um povoado medieval, o qual julgamos corresponder à sede de S. Martinho de Vilar de Vacas, freguesia referenciada nas Inquirições de 1258 e da qual terá evoluído a actual aldeia de S. Martinho de Ruivães. Da aldeia medieval de S. Martinho de Vilar de Vacas pode dizer-se que era sede de um território bastante povoado - no século XIII incluía as aldeias da actual freguesia de Campos, factor que terá contribuído para que mais tarde, já como Ruivães, tenha atingido o estatuto de concelho.”
E, no mesmo documento, aquele reputado organismo de investigação concluiu tratar-se “… de local de inegável valor histórico e cultural…”.
E então perguntei a mim mesmo: Porque razão não se valoriza, protege e preserva tal património? Porque não se utiliza como mais-valia para a afirmação de Ruivães nos roteiros do património a visitar? Porque não se utiliza aquele património para fazer parar visitantes em Ruivães? Porque não se sinaliza com placas orientadoras o acesso àquele local?
São perguntas…
Mas fazendo a leitura atenta da interpretação atrás transcrita, ali são referidos dois conjuntos de vestígios de ruínas, sendo um da época romana e outro de um povoado medieval. Presumo que o medieval seja também relacionado com os indícios da existência de uma igreja no local. E foi nesta presunção que me lembrei da cruz granítica existente no exterior da igreja de Ruivães, colocada à direita da porta principal.
Aquela cruz está assente numa base cúbica, cujas  faces laterais ostentam formas geométricas em losango  esculpidas, e a frontal quatro quadrados separados por uma cruz simples. No quadrado frontal inferior esquerdo estão esculpidas, embora de forma quase imperceptível, uns caracteres enigmáticos.  Embora não saiba precisar em que circunstâncias  memorizei tal informação, certo é que quando ainda criança, apreendi que aquela cruz fora transferida de S.Cristóvam para o local onde se encontra actualmente. Haverá de certo alguém entendido na matéria que saberá desmistificar a minha dúvida e também interpretar os sinais esculpidos na base da cruz. Contudo, não me parece que o estilo daquela cruz seja coincidente com o estilo arquitectónico da igreja.
Uma coisa é certa, Ruivães tem história e património, mas …
Mas já agora um outro reparo: Porque razão a base da aludida cruz se encontra parcialmente enterrada no cimento? Não seria sinal de bom gosto a respectiva elevação?  
E por aqui me fico por agora, na ânsia  do meu humilde contributo…

Braga, 11 de Janeiro de 2014

Fernando Araújo da Silva

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Ontem continuei o meu percurso pela calçada romana, ou de Ruivães, ou da ponte velha, ou…


Ontem, como que impulsionado pela vontade em recordar, voltei à ponte de pedra, da rês, ou velha….. e, partindo da ponte em direcção a Ruivães, lá fui subindo lentamente a velhíssima calçada. Fiz o primeiro troço até ao topo da primeira ladeira e parei junto à cancela das terras do “Lagarto”. Dali contemplei, na direcção descendente, o piso irregular da calçada, cujas pedras lisas, gastas pelo uso e pelo tempo, me deram a sensação de ali terem ganho raízes há muitos séculos para garantia perene, se circunstancia inusitada a não quebrar (que poderá ser humana).
As paredes e muros que a ladeiam, de pedras brutas encavalitadas umas nas outras, emprestam-lhe um ar austero, quão austero seria o povo que as construiu para circular, proteger e vedar.
Prossegui um pouco mais, pelo troço mais horizontal, até ao fim do que resta da calçada, sensivelmente abaixo da cancela das terras do “Agostinho”. Ali parei e conclui que a garantia de perenidade da calçada havia sido quebrada. Não pelos construtores, mas pelo desleixo, ou o que quer que lhe chamemos, do homem que herdou património de tão elevado valor histórico, estratégico, económico e social…
Entrei pelo caos da via, saltitando de pedra em pedra, à procura de poiso firme e seco, na ânsia de evitar o desagrado da água nos pés e prossegui até à cancela do “Porto do carro”. Dali contemplei toda a destruição que sofreu aquela via, tanto pelo desabar de terras laterais, como pela errância das águas que por ali se acumulam e abrem caminho até desaguarem no rio Saltadouro.
Continuei o percurso até à derivação do caminho para Vale e, como noutros tempos, o caos no curso de água, os sinais evidentes de para ali escoarem esgotos domésticos, etc. E dei por terminado o meu percurso sobre a via romana. Mas foi neste ponto de derivação onde mais tempo parei e, como idealista nostálgico, imaginei a conjugação do rio com a paisagem, a ponte e o que resta da calçada romana, como motivos de atracção turística, elementos de utilização pedagógica e também motivos de orgulho. Sim, qual a terra que não se orgulharia de ter sido servida/atravessada por uma via romana de tal importância e da qual ainda restam tão belos testemunhos?
Para tal, imaginei a ponte limpa, reparada, conservada e classificada; o que resta do piso primitivo da calçada mantido com a sua originalidade, sinalizado, com os regos limpos e conservados; a parte do troço que se encontra destruída reparada com materiais a condizer; a remoção do que resta de uma ramada; as laterais limpas de silvas e árvores ameaçadoras de socalcos; o curso de água conduzido em canal aberto e sinalética na Estrada Nacional a indicar aquelas belezas. Por fim, a inclusão na lista de locais a visitar.
É um manifesto e um sonho, mas um manifesto real e um sonho facilmente realizável...


Braga, 2013.11.24

Fernando Araújo da Silva

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Ontem desci à ponte de pedra!...


Ontem desci à ponte de pedra pelo velho caminho de Vale, Buraca abaixo. As pernas foram-se moldando às irregularidades da calçada, sempre com preocupação de um solavanco maior, ou de uma escorregadela numa pedra mais lisa ou numa outra solta. Serpenteei pelos espaços deixados livres pela vegetação. Curvei-me sob as silvas que procuram conquistar o espaço do caminho e apreciei, languidamente, a rudeza do acesso, dos montes e campos, e meditei o quão agreste foi a vida daqueles que construíram caminhos e muros, amansaram courelas e marcaram as pedras da calçada ao longo das gerações, com sangue, suor e lágrimas!..

Lá cheguei eu à ponte. Ali estava ela, como sempre esteve desde que a engenharia humana, por necessidade de comunicação e circulação, enobreceu as duas margens do Saltadouro com tão bela obra e as uniu. Parei ao meio do tabuleiro e direccionei o meu olhar para jusante, mais precisamente para o “poço negro”. Ali fiquei a meditar e recuei os meus pensamentos ao tempo de meninice. Aquela ponte, de lajes nuas no tabuleiro, guardas laterais em todo o seu comprimento, limpa de heras e outros arbustos… Lá no fundo, as águas límpidas do rio alimentavam o poço negro, onde crianças e adultos em agitação usufruíam da frescura daquele espaço, ora procurando o melhor e mais alto penedo para um bom mergulho, ora gozando o Sol de uma tarde de Verão. Ali estava eu, também despido de preconceitos, à procura de um elogio sobre a minha arte de nadador. Pela memória passaram-me inúmeras  recordações de companheiros de brincadeira!...

Ao fim de algum tempo direccionei o olhar para montante, na direcção do velho moinho do “Bárbara”. Ali estavam aquelas mulheres, de pernas metidas na água até aos joelhos, debruçadas sobre as pedras do rio, ora centrando a atenção na roupa que lavavam da prole, ora olhando na direcção do poço negro preocupadas com algum petiz. Cobrindo o verde dos amieiros a brancura da roupa lavada e sobre as rochas a roupa a corar ao sol. Mais acima, o rebanho de ovelhas que percorria o leito à procura do carriço fresco.

Acordei do sonho. A ponte ali estava com as  lajes do tabuleiro cobertas por espessa camada de terra e pedras para ali arrastadas pelas chuvas; as gateiras para escoamento das águas tapadas com cimento que cobre tubos de águas particulares; as guardas laterais incompletas; as heras que se entranham na estrutura e  cobrem a sua beleza, e o medronheiro que perfura com as raízes as suas entranhas e abalam a obra de engenharia humana. Ali estava a ponte, em processo de classificação, abandonada…

Rumei em direcção a Ruivães e percorri parte daquela que foi a XVII via romana. Lá estão, bem vincadas nas pedras da calçada, as marcas dos ferros dos rodados em testemunho de vidas passadas de trabalho, de luta, de espírito de sacrifício e ensinamentos para hoje e amanha!..

Por aqui me fico.

Vale, 2013.11.09


Fernando Araújo da Silva

domingo, 3 de dezembro de 2006

Sobre o aproveitamento Hidroeléctrico do Rio Saltadouro



Vou tentar esclarecer!...



Graças à chuva que cai nesta tarde de Domingo, que me fez recolher no aconchego do lar, seguindo os instintos naturais de um Ruivanense, dei por mim sentado em frente ao computador, e consequentemente a navegar pelos vários sítios da Internet, ao ponte de ir parar aos blogs da Vila de Ruivães.

Percorri-os com a curiosidade de um filho das serras, dos montes, dos vales, dos caminhos e do rio. Todos os lugares que ali vi me dizem muito. Foi neles que aprendi os princípios da orientação para a vida e é neles que vejo os pontos de referência daqueles que me precederam e me deram vida – as minhas raízes.

Foi então nesse percurso que, com curiosidade, parei numas fotos e comentários datados de 2006.11.05, sobre o Moinho dos Bacelos, sendo que os comentários dizem textualmente: “Hoje à tarde resolvemos aceitar o convite do Zé e do Victor e ser guiados rumo  ao Moinho dos Bacelos que fica em plena “área a inundar” pelo novo empreendimento hidroeléctrico do Saltadouro. Uma vez que ainda não tivemos oportunidade de analisar o projecto – pois não sabemos onde é que ele está disponível para consulta, ou se está – não sabemos que área vai ficar submersa. Ficam por isso esta (e outras) fotografias para memória futura.”

Pois bem. Fiquem descansados os amantes das coisas destruídas, incluindo dos moinhos não recuperados, que nada será inundado por qualquer empreendimento hidroeléctrico, ficando sempre a hipótese e o desejo, pelo menos do autor destes comentários, da sua recuperação.

Para melhor esclarecimento, informo desde já que ainda não há qualquer projecto de arquitectura para a concretização da obra daquele que vai ser o aproveitamento hidroeléctrico do Rio Saltadouro, sendo que apenas está a ser feito o levantamento topográfico dos  terrenos que serão abrangidos pelo mesmo e que darão elementos necessários e fundamentais para o projecto.

O que há, em concreto, e já concluídos, são os estudos de Viabilidade Técnica e Económica do Aproveitamento, bem assim como os Estudos de Impacto Ambiental.

Tais estudos remontam já do ano de 1997, cujo Edital para Consulta Pública foi remetido à Câmara Municipal de Vieira do Minho em 1998.05.26, através do ofício nº. 3008 da Direcção do Ambiente e Recursos Naturais (DARN) do Norte – Porto, sendo que tais editais foram afixados na Junta de Freguesia de Ruivães. Aliás, foi por leitura de tais editais que obtive a primeira informação sobre o início dos estudos atrás referidos.

Seguiram-se entretanto outros estudos nos anos seguintes, que concluíram pela viabilidade económica do empreendimento, resultando de tal conclusão o Despacho nº. 17 730/2006 do Ministro da Economia e da Inovação de 2006.05.31, publicado no DR – 2ª: Série nº. 168 de 2006.08.31, que reconhece de interesse público o projecto de aproveitamento hidroeléctrico do rio Saltadouro, em Ruivães.

Os dossiers dos estudos encontram-se actualmente na Direcção do Ambiente e Recursos Naturais – Norte, com sede na Rua Formosa, nº. 254 – Porto. Foi ali que me desloquei para os analisar, mediante um contacto prévio com o engenheiro responsável. Fi-lo na qualidade de cidadão, a título particular, como qualquer outro o poderá fazer, no sentido de ser informado pela Administração Pública sobre um assunto de interesse e que me diz respeito.

De qualquer forma sempre digo que, dado tratar-se de um empreendimento que mexe com os interesses das pessoas, com interesses económicos, ambientais, paisagísticos e até históricos, é da responsabilidade das autarquias diligenciarem no sentido de se munirem dos elementos de informação necessários para os disponibilizarem às populações e até salvaguardar interesses que pelo desconhecimento não serão salvaguardados.

Embora não tenha conhecimentos técnicos sobre o desenrolar do empreendimento, vou tentar, a traços largos, dar uma ideia daquilo que os estudos apontam para a sua concretização.

A jusante (abaixo) da Ponte Velha, sensivelmente no local onde se encontra uma pequena represa que serviu para desviar a água para os Moinhos do Abel, será construída um pequeno paredão, que não terá mais do que 3,5 m de altura, sendo que, a partir daí, se formará um canal que apanhará a água do Ribeiro do Mendo, seguindo tal canal, ao longo da encosta do Castelo (margem esquerda do rio), com um declive de cerca de um metro por quilómetro, apanhando as águas dos ribeiros seguintes.  Ao chegar sensivelmente a um ponto paralelo à ponte pedestre do Saltadouro, na perpendicular, descerá um canal por onde correrá a água que fará accionar uma turbina numa Central ali a construir. A produção de energia será feita em fio de água.

Os Estudos obrigam a que, na concretização do empreendimento, sejam respeitados os caudais ecológicos, salvaguardando a manutenção dos caudais de água necessários à alimentação dos moinhos existentes a jusante (abaixo) do paredão, caso estes venham a funcionar, bem assim as condições necessárias à transposição dos peixes.

Prevêem então os estudos que apenas será submersa uma área de cerca de 1.200 m2, que corresponderá à pequena albufeira.

Para todos fica aqui o meu contributo que, não sendo grande, poderá servir para serenar alguns ânimos sobre eventuais apetites económicos, pelo menos daqueles que inventam propriedades como no antigamente !...

De qualquer forma, fica sempre o meu reconhecimento aos autores das fotos do Moinho dos Bacelos que, não ficando submerso em razão do aproveitamento hidroeléctrico, pelo menos deste, servem para a posteridade, porque o moinho sempre se perderá no tempo em razão da ausência de políticas de recuperação do património.

Já agora. Quem sabe se não será oportuno negociar com a promotora do projecto a recuperação de algum património como contrapartida ?... Sejamos enérgicos!...



Braga, 2006.12.03

Fernando Araújo da Silva





Ligação ao artigo mencionado, aqui.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

Reflexões Ruivanenses

Um destes dias escrevi um pequeno texto  sobre a obra “O Mutilado de Ruivães”, e rematei tal texto em jeito de agradecimento para com os respectivos autores, que não conheci, por me terem transmitido, através da mesma obra, um sentimento de orgulho em ser Ruivanense.

O orgulho, sendo um sentimento de auto-estima, não se pode limitar aos feitos dos nossos antepassados. É necessário que os recordemos por aquilo que foram, pelo que fizeram e pelo que nos legaram, mas não se pode viver eternamente à sombra da sua imagem, na eterna esperança de que o orgulho nos encha os estômagos e a importância nos seja reconhecida por aqueles que se sentam, à custa dos nossos impostos, nos cadeirões de S.Bento.

Ruivães já viveu demasiados anos “na esperança”. E se continuarmos impávidos e serenos à espera que o poder central procure no mapa a sua localização para revitalizar a sua importância histórica e administrativa, corremos sérios riscos de um dia nem se justificarem as placas indicadoras de localidade. É necessário arregaçar as mangas, olhar em frente e apostar!...

Vem esta introdução com um propósito muito sério e responsável. Não se trata de qualquer crítica, mas apenas e só de alertas, com o modesto objectivo de colaborar.

Cito apenas um pequeno episódio que, decerto não terá qualquer importância para muitas pessoas, mas que para mim, enquanto elemento socialmente activo e participativo tem.

No dia 9 de Julho de 2006, Domingo, quando efectuava um pequeno passeio pelos caminhos do lugar de Vale, onde me desloco com relativa frequência, cruzei-me com um grupo de três jovens, todos eles equipados com material para a prática de montanhismo. Um deles, com um mapa nas mãos deslocou-se na minha direcção e perguntou qual o caminho que deveriam tomar para a “Ponte Velha”. Ali lhe expliquei o itinerário que deveriam seguir, perguntando-lhe se pretendiam ali praticar alguma escalada. De forma muito simpática, aquele grupo logo me deu a saber que se preparavam para descer o leito do rio até à barragem de Salamonde e que tal percurso já faz parte da aventura de outras pessoas, amigas daqueles jovens.

 Fiquei feliz em saber que alguém, não natural dali, já havia descoberto uma das maravilhas da minha terra, o rio, e fiquei tão feliz que até desafiei aquele grupo a efectuar o percurso no sentido contrário (de juzante para montante), tal como eu já o havia feito.

 Prosseguiu a curta conversa  com uma pergunta de um jovem sobre itinerários, a partir da barragem,  para regresso à viatura que haviam deixado na estrada, próximo  do acesso à capela da Srª. da Saúde, mas sem aventura.

Nessa altura fiquei pensativo e lembrei-me dos trilhos que outrora havia pelo monte, uns criados pelos animais que por ali apascentavam, outros pelos pescadores quando percorriam a encosta íngreme da margem direita do rio, pela Ameixeira, com vistas esplêndidas sobre a encosta do Castelo, as arribas naturais de uma e outra margem, com o azul da barragem como pano de fundo, a contrastar com a verdura dos montes da margem direita do Cavado. Que paisagem maravilhosa aquela!.... Nessa altura fiquei apenas com a imagem do que conheci e conheço, mas não consegui arranjar argumento para convencer o grupo a deslocar-se por aqueles para que pudessem confirmar com os seus olhos tal beleza, e a partir daí a dinamizarem.

 Dei-lhes a conhecer que outrora havia aqueles trilhos, mas que actualmente se encontram apagados pela vegetação e que a única solução que tinham era a de regressarem a corta-mato, com os riscos respectivos.

Todos os elementos agradeceram a minha prestação, e com simpatia desejaram um bom Domingo, seguindo o seu destino.

Depois de ter deixado aqueles “aventureiros”, ao que parece amantes da natureza, fui sentar-me à sombra de um cedro que há cerca de vinte anos plantei e ali tentei ler o jornal, mas em vão. Apesar do meu esforço, não consegui concentração suficiente para a minha actualização. A minha mente ficou ocupada com o pequeno episódio dos “aventureiros”.

Nessa altura fiz muitas interrogações, que aqui reproduzo e que coloco à consideração daqueles que queiram fazer algo por Ruivães e pelas suas gentes, sempre no sentido de valorizarem o legado que foi deixado pelos antepassados e manter viva a chama que acalenta o orgulho Ruivanense, pelo menos o meu:

-         Porque não vender o que temos de melhor, como as serras, os montes, os vales, o rio, a barragem, as paisagens, os monumentos, a história, os usos e os costumes, etc?...

-         Porque não promover a classificação como monumentos nacionais a “Ponte Velha”, ou “Ponte de Pedra”, o caminho que a serve, o Pelourinho ou Forca de Ruivães, algumas casas com simbolismo histórico e arquitectónico de toda a freguesia, a Ponte do Saltadouro, alguns moinhos já em ruínas ao longo da margem do rio e de todo o conjunto dos mesmos ainda existentes ao longo da levada na Botica, e outros lugares de relevo de toda a freguesia?

-         Porque não a construção de uma réplica, em miniatura, da agora submersa Ponte do Saltadouro, para exposição em local de destaque na freguesia, em memória dos feitos heróicos dos Ruivanenses que combateram os Franceses?

-         Porque não a colocação de sinais indicadores (placas) de pontos de destaque, em locais estratégicos da freguesia, para auxílio e orientação dos visitantes?

-         Porque não a criação e manutenção de trilhos para percursos pedestres, com abrigos?

-         Porque não a promoção, como atracção turística e também cultural, dos eventos anuais do “Rego” e “Paredinho”?

-         Porque não a criação de um museu etnográfico?

-         Etc, etc, etc…

E fazer incluir Ruivães e todos os lugares que a constituem nos roteiros turísticos que, com certeza, não será difícil. E será dessa forma que a antiga e nobre Vila de Ruivães terá viabilidade como localidade de destaque no mapa de Portugal que os políticos do Poder Central desconhecem.

Claro que tudo implica gastos. Implica esforço e sacrifico. Implicará igualmente dores de cabeça e aborrecimentos, mas não tenhamos dúvidas que tudo será recompensado, quanto mais não seja como homenagem àqueles que nos deram vida, muito lutaram, sofrendo as agruras do mundo rural, hoje ao abandono.

É necessário apostar e também acreditar, sendo para tal necessário arrojo na elaboração e apresentação de projectos, que em boa verdade acredito viáveis!...

   



Braga, 14 de Julho de 2006

O autor,

(Fernando Araújo da Silva)

sábado, 17 de junho de 2006

Sobre "O Mutilado de Ruivães"

Sobre “O Mutilado de Ruivães”



Pediu-me, a minha filha Carla, que tecesse algumas considerações sobre a obra. Que o fizesse sem grandes alegações, de forma simples e resumida.

Não quis deixar de corresponder ao pedido, e aqui estou eu, desprovido de qualquer veia literária a tentar cumprir com as minhas obrigações de pai!...

Aos que lerem este arrazoado peço desculpa, prometendo-lhes que, caso não gostem, não os voltarei a incomodar. 



O que hei-de então eu dizer para além daquilo que os autores da obra disseram na respectiva Nota Prévia, que me atrevo aqui a reproduzir?

“A história das pequenas terras vai ficando esquecida diante de certos fenómenos sócio-económicos, derivados do urbanismo avassalador; apagam-se da lembrança dos homens os feitos dos seus antepassados; olvidam-se os fastos de outrora; morre a gesta da tradição, a prática das virtudes ancestrais, a nobreza dos bons costumes regidos na austeridade de princípios morais ainda hoje indiscutíveis, que foram as pedras com que se construiu a Nação, a fizeram grande e a levaram a expandir-se pelo Mundo. Morreu no coração dos homens a poesia que envolve as coisas belas que o Passado nos legou; secaram-se as fontes que nasciam da alma e corriam límpidas para o mar da fantasia e do sonho, mas que ajudavam a viver.”

A obra, da autoria de Mário Moutinho e A. Sousa e Silva, editada no início da década de oitenta do século passado, presenteia-nos com um romance tipicamente português, escrito na linha do Romantismo que marcou a primeira metade do século XIX, sendo simultaneamente um valioso reportório histórico das invasões francesas às lutas liberais.

É constituída por cinquenta e um capítulos, escritos ao longo trezentas e sessenta e duas páginas, sendo o primeiro um retrato paisagístico da antiga e nobre Vila de Ruivães, onde é evidenciado a sua importância no quadro administrativo e estratégico de Portugal da época, sendo nele destacado o envolvimento activo e participativo das gentes daquela terra na luta contra as invasões Francesas, nomeadamente o massacre a que sujeitaram os franceses na Ponte do Saltadouro, quando estes por ali transitavam nas suas deslocações em coluna militar. Este capítulo é completado com informações histórico-administrativas, sobre alguns monumentos de relevo, vias romanas que atravessavam a região, algumas crenças populares, etc..

Prossegue a obra com um romance … (1)



Deve-se então o título de “O Mutilado de Ruivães” à figura de Manuel Sobral, sendo que é nele que assenta todo o romance e é ao longo do mesmo, na sua participação na luta contra as invasões Francesas, que os autores fizeram várias incursões sobre aquele momento histórico e que muito bem deram a conhecer.

  A todos os naturais da freguesia de Ruivães em particular, e todos aqueles que se interessam e apreciam “a história das pequenas terras” em geral, aconselho uma leitura atenta à referida obra e convido-os a que se criem os movimentos necessários à reposição do valor estratégico e administrativo da antiga e nobre Vila de Ruivães, que foi sede de importante concelho até 1853, sendo uma das vilas mais antigas de Portugal, como cabeça de concelho até 1834 e pertencente à província de Trás-os-Montes.

Aos políticos em particular apelo que reflictam, se empenhem e exerçam a politica de forma desinteressada e eficaz, conduzindo acções governativas que proporcionem condições de vida condigna àqueles que optarem por continuar a dar vida às “muitas e nobres Vilas de Ruivães” espalhadas pelo país e que, tal como a nobre Vila de Ruivães, se encontram desertificadas, para que a Nota Prévia dos autores deixe de ter sentido.

Aos autores, que não conheci, o meu sincero agradecimento pelo que me ensinaram e pelo orgulho que me fizeram sentir como Ruivanense.



Fernando Silva



(1) Tomamos a liberdade de retirar três parágrafos a este texto, para que os que ainda não leram a obra não percam a vontade de o fazer.